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terça-feira, 28 de maio de 2013

ADAC 24 HORAS RENNEN NÜRBURGRING – A CORRIDA MAIS DIFÍCIL DO MUNDO




Estava eu a ver o Blog Auto entusiastas do amigo Milton Belli e encontrei um post incrível que fala sobre uma mítica corrida, talvez uma das mais famosas e mais desejadas corridas de todos os tempos que se realiza entre os dias 19 e 20 de maio, no circuito de Nürburgring que recebeu mais de 170 carros. Todos estes aventureiros estavam inscritos no evento oficial mais esperado do ano na Alemanha, as 24 Horas de Nürburgring. O nome oficial da prova é ADAC 24Hs Rennen Nürburgring, onde ADAC (Allgemeiner Deutscher Automobil-Club) representa o autoclube europeu de maior importância, e organizador da prova.



Este ano, quem levou o troféu para casa foi um Mercedes-Benz SLS AMG, similar aos modelos da GT3 que correm aqui no Brasil. Por incrível que pareça, esta foi a primeira vitória de um Mercedes no evento que carrega anos de tradição.

Provas de longa duração não são novidade alguma, este próprio evento alemão tem sua história, mas podemos dizer que é um caso à parte, diferente de todas as outras corridas similares.
 

O Mercedes-Benz vencedor de 2013


Le Mans é a mais tradicional prova de endurance (longa duração) do mundo, não há dúvida, mas o desafio em Nürburgring é muito maior. Por quê? Pelo simples fato do circuito ter nada menos que 20 km de extensão. Imaginem disputar uma corrida de 24 horas de duração onde se completam apenas 150 voltas, aproximadamente. Para comparação, a edição de 2012 foi concluída com 155 voltas, enquanto que Le Mans terminou com 378 voltas no mesmo ano.

Esta incrível corrida foi criada em 1970, e sempre foi dominada pelos nativos germânicos. Desde a primeira edição, quando o BMW 2002 Ti de Hans-Joachim Stuck e Clemens Schickentanz venceram, pilotos e carros da Alemanha se destacam. A tradição de ser uma pista aberta ao público, nos dias de hoje, facilita bastante o conhecimento do traçado.
 
Alfas na primeira edição da corrida, em 1970


Quem já andou em um autódromo sabe quem decorar todos os pontos de trajetória, marcha ideal e ponto de retomada não é uma tarefa simples. Mais de cem curvas, todas parecidas e praticamente sem referências visuais ao redor da pista não ajudam em nada, mesmo para pilotos profissionais.

Jackie Stewart deu o apelido de Inferno Verde ao Trecho Norte (Nordschleife) do autódromo, ou seja, ao trecho da pista antiga que completa os mais de 20 km do traçado, juntamente com o trecho moderno que é usado na F-1, tamanha era a dificuldade da prova.


Um pequeno Peugeot no meio de grandes GTs

 
O Rali Dakar provavelmente é mais perigoso, mas é um outro estilo de corrida, em terreno aberto e ambiente não controlado. Para não misturar muito as coisas, vamos ficar com as corridas “on-road”.

Um fato curioso sobre esta corrida é que a organização assumidamente favorece os pilotos semi-profissionais, para não chamar de amadores. Como a pista é grande, aproximadamente 180 carros participam da prova. Cento e oitenta carros, é a mesma coisa que cinco vezes e meia o grid que larga em Indianápolis.
 

O belo Aston Martin 007, um dos favoritos da corrida



Apenas carros do tipo GT (grã-turismo) e sedãs são permitidos na prova, nada de protótipos como em Le Mans. Isto favorece muito a inscrição dos semiprofissionais, pois não é qualquer um que consegue comprar um protótipo, mas a grande maioria consegue preparar um carro de rua para a corrida.

Dentre estes mais de cem inscritos, diversas categorias abrangem um grande número de carros, variando entre tipo de carroceria, motor, combustível etc. Poucos eventos permitem tamanha abertura aos pilotos como este. Como falamos, o vencedor deste ano pela primeira vez na história, foi um Mercedes-Benz. O carro número 9 conduzido pelo experiente piloto de turismo Bernd Schneider e seus companheiros (Jeroen Bleekemolen, Sean Edwards e Nicki Thiim) é um modelo SLS AMG GT3.
 

O Audi R8 LMS GT dominou boa parte da corrida, mas não conseguiu superar a regularidade dos SLS
Ao longo dos treinos e da qualificação, os Audi R8 LMS ultra (R8 igual aos de rua e da nossa GT3, não confundir com o antigo protótipo de Le Mans, apesar do nome) eram favoritos. Lideraram por boa parte da prova, mas as dificuldades colocaram os Mercedes e BMW na frente.

Os germânicos são os primeiros no ranking de vencedores. A BMW lidera a tabela com 19 vitórias, seguida pela Porsche com 11. A terceira marca é a Ford, com cinco vitórias, nem metade do que a Porsche já ganhou.


O famoso pulo de Nürburgring, em alta velocidade

Falando em dificuldades, a corrida deste ano foi interrompida por quase nove horas devido à forte chuva que caiu durante a madrugada. Correr em um autódromo com chuva já é complicado, no Inferno Verde e ainda no escuro, não é para qualquer um. Veja o vídeo abaixo de uma volta a bordo de um 911 RSR, com a câmera montada no capacete do piloto. Dá para entender bem porque pararam a prova por causa da chuva.



A pista é estreita, em alguns trechos não passam três carros lado a lado. Os carros mais rápidos freqüentemente encontram os retardatários e precisam achar uma brecha para passar com segurança. Como a pista praticamente é uma enorme seqüência de curvas com poucas retas, passar com segurança geralmente não é uma opção.

Não quero nem pensar no dia em que o pessoal da FIA resolva dar uma espiada nesta corrida. Vão querer modificar todas as curvas, colocar área de escape, brita, grama e muros especiais revestidos com travesseiros de pena de ganso. Hoje o circuito de Nürburgring é o que é pelo fato nunca ter sido penalizado em prol de segurança. O máximo que fizeram foi colocar as proteções ARMCO, ou os nossos conhecidos guard-rails, pois antes se você errasse a curva, caía no meio do mato ou batia em uma árvore.
 

O trecho moderno da pista, que é usado para F-1, é um exemplo de modernidade e segurança, mas nem por isso alteraram o antigo traçado. Quem anda lá sabe do risco que corre, e corre porque quer. É mais ou menos como o Tourist Trophy da Ilha de Man, no motociclismo. É perigoso ao extremos, o número de inscritos é alto e o público maior ainda. Ao longo de todo o traçado, sempre vemos uma cabaninha ou um aglomerado de espectadores.

A 24 Horas de Nürburgring podem ser uma das últimas provas do automobilismo em que o espírito de uma corrida de carro fala mais alto que qualquer burocracia ou politicagem. Obviamente, não somos a favor de carnificina em corridas. O mínimo de segurança é necessário, para os pilotos, equipes e para o público. Mas automobilismo é um esporte de risco, e o fato de não tentarem tesourar a esportividade em prol da segurança conta muito.  Os carros de hoje em dia também são bem mais seguros que os de alguns anos atrás, e a chance de um acidente com conseqúências graves acontecer é bem menor.

Falando em carros modernos, alguns fabricantes utilizam esta corrida como laboratório de testes. Veja o carro número 100, é um Aston Martin. Até ai, nada demais, mas é um Aston Martin Rapide, o sedã de luxo da marca que concorre com o Maserati Quattroporte. Mas ainda é um Aston Martin Rapide S Hybrid, com tecnologia de motorização híbrida ainda em desenvolvimento.
 
O Aston Martin Rapide híbrido, pilotado pelo presidente da Aston Martin


Devido ao grande esforço que um carro sofre nesta pista, com tantas condições diferentes de uso, isto fornece dados importantes para os engenheiros. Detalhe interessante: um dos pilotos deste Aston chama-se Dr. Ulrich Bez, também conhecido como presidente excecutivo da Aston Martin. Sim! O chefão da empresa está correndo com o carro de testes!

Novamente, poucas corridas no mundo permitem tamanha diversidade. De Audis e BMWs de última geração, passando por carros de teste de fábrica com alto executivo pilotando, até modelos mais antigos participam da prova, como um belo 190E Evo, provavelmente um antigo carro de DTM adaptado para a corrida de longa duração.
 

O veterano 190E Evo

Já tivemos dois brasileiros vencendo esta corrida, o Augusto Farfus em 2010 de BMW M3 GT2 e o Antônio Hermann em 1993 com um Porsche 911 Carrera da Konrad Motorsport.

Enquanto esta corrida sobreviver, existe um fio de esperança de que nem tudo no mundo será burocratizado e regulamentado com regras incompreensíveis e complicadas, que aos poucos acabam com a graça do esporte a motor. Isto é automobilismo do mais puro teor em um lugar mítico.

“Just drive all day and night as fast as you can”, como diria um chefe de equipe para seus pilotos, simples assim.